terça-feira, 27 de setembro de 2011

Carne viva: o processo (i)limitado: relato sobre a reflexão de um processo criativo

apresentação --

O assunto que iremos abordar a seguir se refere à série Carne viva, obras criadas com a autoria do meu projeto ‘Gaapas coletivo imaginário’. A série são fotografias preto e branco registradas entre os anos da faculdade (de 2002 a 2004), em uma aula de fotografia pertencente ao curso de bachalerado de Design Gráfico, onde abordava o registro da modelo vivo em várias posições e luzes diferenciadas. Assim, as fotografias foram pintadas com 3 cores de canetas esferográfi- cas: vermelho, laranja e amarelo, no ano de 2008.

A seguir, vamos verificar a questão deste processo criativo, que segue em direção ao fato de utilizar os elementos que possui no momento, no caso, as fotografias e as canetas.


a mesa --

Um dia desesperador: a necessidade de criar sem ter uma ideia como base. Mesmo assim, a cor- rida ansiosa para a mesa, sem se preocupar em ter uma ideia antes. Era um dia em que estava cansada de ler e ler para obter uma futura ideia. Sentia a afobação tomando conta de meu corpo, que não se declarava nem vivo, nem morto.

Antes de me levar à mesa, peguei o que tinha em vista -- antigas fotografias preto e branco de modelo vivo que registrei na faculdade -- e assim fui ao suposto ritual da mesa como suporte de trabalho. Ao chegar, vizualizei os materiais que havia -- canetas esferográficas -- e me sentei. Olhei as fotos, olhei as canetas. Logo, a relação corpo, cores: vermelho, laranja e amarelo, o gradiente. O corpo nu branco solicitava as cores dos músculos não expostos.

Assim comecei o teste do processo criativo: o momento do contato da caneta com a foto foi um ato decisivo, silencioso e ao mesmo tempo calmo, como se tudo o que estava acontecendo tinha relação somente com a afobação (essa se tornou a verdadeira protagonista) e o resto era apenas consequências.

O que ocorreu acima foi um processo criativo que trouxe uma ideia interessante ao desenrolar da história. A ideia de usar o que tem, ter o limite de elementos e colocá-los dipostos à mesa é um ato decisivo, como escolher entre morrer ou viver. Logo, a ideia surgiu da ideia do limite, da combinação das limitações lançadas. Um ato que mostrou a relação sutil entre a obra criada e o movimento psicológico e até físico sobre o ocorrido. Mas esta reflexão não foi observada durante e nem depois do término do trabalho. Este relato sobre o ocorrido há 3 anos atrás foi o momento em que me disponibilizei à reflexão, podendo dizer que a afobação durou até agora ou até há pouco tempo, ou seja, o momento durou até há pouco e isto mostra o quanto um momento pode durar e influenciar as obras criadas após esta. Fica a questão: o momento morre após a obra ou (re)vive? O momento não tem um tempo determinado, tanto o quanto irá viver ou quando irá morrer.Assim se estabelece o processo criativo, o qual necessita de ambos para nascer, viver e morrer. A criação é um dado sem tempo, onde tudo terá um fim nunca esperado, mesmo tendo toda o estudo necessário para saber qual será o resultado do processo. O que podemos saber é que sempre irá ser espontâneo.

A criação não tem hora marcada, ela é utilizada quando se apresenta um dado problemático, um ritmo já estagnado ou a carência de um movimento que podemos chamar de livre. E o ato se mistu- ra com o resultado do trabalho, podendo criar relações claras sobre a filosofia do ato e a filosofia da obra, onde o processo criativo poderá ser revelado. Momento e obra são inseparáveis:o momento sempre terá repercussão na obra, fazendo com que ela mude de rumo. Essa liberdade que o artista carrega é o que alimenta o processo criativo. Sem a afobação em fazer algo logo não me levaria a pegar as fotografias e nem me levaria à mesa.

Agora vamos falar sobre a tal mesa: ela é o campo onde tudo pode surgir e tudo será resolvido, é o momento responsável por concentração e experimentações, o local de planejamentos e decisões. Como um julgamento ou um relato sobre o momento: a escolha entre vida e morte.

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