domingo, 5 de outubro de 2008

Performance na Paulista

Sábado, por volta de 21h, alguns ventos gelados, temperatura abafada, início da Avenida Paulista. começa a filmagem ao som de The Beatles, The Yardbirds, The Sonics, Baden Powell, The Strokes, trilha sonora do filme O fabuloso destino de Amelie Poulain, entre outros músicos. Prédios, visão de baixo para cima, luzes, recintos, pessoas. Pessoas nas calçadas desfocadas, evitei filmar pessoas que olhavam diretamente para a câmera. Não queria que se percebece, e se perceberam, não gostaria que se ligasse para o ocorrido. Mesmo assim, tentei filmá-las, mesmo desfocadas. Visão de cima para baixo: joelhos e pés. Chão. Luzes em minha direção. Luzes que remetiam. Muitos olharam, não estão acostumados com filmagens talvez. Uns olhavam como se visse uma novidade, outros já demonstravam logo dislumbre. Nossa, não sabia que filmar causava isto nas pessoas!
Alerta, atenção, tensão, leveza. Alerta: foquei por um bom tempo, compenetrou, penetrou. Atenção: possíveis mudanças de planos para melhorar a filmagem. Tensão: o desfoque, a perdição, momento de voltar à Atenção. Leveza: a conquista destes processos. Filmando seriamente. Em torno da filmagem, acontecia os quadros imaginários, série de flashs iniciados antes, durante e depois dos processos mencionados acima. Focos: intuito de chamar a imagem, congelar, sem chamar sua atenção visual de uma forma que interrompesse o processo de filmagem.
Além do desfoque, foi filmado fragmentos do elemento cujo atrapalhasse a câmera. Tentei muitas vezes, forçar a câmera a focar pessoas sem receio de desfoque ou fuga para outro plano, mas foi difícil. Elas olhavam diretamente, queriam saber o que estava acontecendo, o porquê disto, mas não queria demonstrar desconforto ou causar desconforto.
Filmei prédios que haviam ligações, escadas para acessar, saídas de emergências em determinada altura. Proteção contra chuva e sol nos pontos de ônibus. Gestos. Caras e bocas.
Focos na espera. Elementos indo e vindo. Compartimentos sem ou com pessoas dentro. Exploração destes.
Um simples foco: um cachorro, olhar triste e carinhoso, juntos um olhar sincero. Ao perceber sua situação de cachorro de rua, sempre em busca de comida e abrigo, lança seu olhar triste, mas logo lança o seu olhar carinhoso e, no ato, demonstra esta sensação ao seu companheiro de jornada, o senhor mendigo, que se encontrava dormindo, descançando de algo.
Um bar, uns bares, muita gente, muitos amigos, muitas conversas. Pernas, cadeiras, rostos entretidos, alguns atentos ao movimento.
Caminho para cegos. Foi inspirador, foi metafórico. Encontros, desencontros, passagens. Plano de cima para baixo. metafórico também, não? flashs. Até que ponto a câmera focava em um sentido.
Filmei também entradas e saídas. E sempre com muitos flashs.
O final: apresentador, revelador, processador.

Foi uma performance ótima. Sensação inédita. Já havia filmado, mas nunca de dentro para fora. A filmagem não apenas processa, visualiza elementos, mas ela transforma tudo aquilo que ela filma. De dentro para fora. Um processo não muito visualmente diferente do de fora para dentro, mas que causa grande diferença em tudo aquilo visualizado, um grande ativador de sensações agora possíveis, com seus determinados processos.