terça-feira, 24 de maio de 2011

sp arte e as obras com outros sentidos para cutucar

Este post foi criado especialmente para falarmos sobre obras que podem mexer com outros sentidos, além da visão. O propósito do garimpo realizado na maior feira do Brasil foi analisar a obra e a exclusão ou a possibilidade de inclusão do público cego. Uma vez, ouvi de uma pessoa do meio: Ah, quem é cego, é cego, fazer o quê!

Sem comentários sobre as palavras da pessoa acima, vamos ao que interessa: ah, quem enxerga, enxerga, fazer o quê!

As análises foram feitas apenas pensando no público cego, ou seja, sensações e possibilidades de um ser que não enxerga. [Enquanto uns enxergam um filme, outros enxergam um filme que o outro se quiser poderá ver.] Resolvi não postar imagens das obras para que você leia e sinta obra, por mais sutil que sejam as falas abaixo.


O artista Ignasi Aballí [Galeria Elba Benítez]
obstáculos pelo chão
obstáculos na altura de uma estatura humana
transparentes ou não; vidros ou objetos.

O artista Gabriel Sierra [Galeria Luisa Strina]
apalpável e extremamente mais interessante não enxergar o apalpável
apalpar e criar um universo único, um filme assistido diretamente internamente
obstáculos transparentes, sensações de superfícies, onde passa o vento, onde o prende
obstáculos que não dizem, e determinam aonde te pegarão. sim. obstáculos que dizem 'posso fazer você tropeçar ou levar uma pancada na cabeça'.

O artista Jesus Soto [Galeria de Arte Ipanema]
obstáculos que ao mesmo tempo não são.
obstáculos que criam uma imagem, uma massa, através da cor, mesmo não sabendo o que é uma cor.

A artista Rosana Ricalde [Galeria Baró]
livros para ler, livros texturizados, que saem do quadrado fechado.
apalpar com receio, apalpar com delicadeza, um toque com a ponta dos dedos
mas os reflexões ficam a parte, como podemos sentir um refletir?
o refletir para um cego é diferente do refletir meu
O refletir é criado, podendo ser mais interessante ainda.

O artista Leon Ferrari [Galeria Arte 57]
linhas,, fios que não precisam ser apalpados e atravessá-los para os sentir
o olho que não enxerga verá as texturas
as cores (a massa) e fará rabiscos na mente.

O artista Julio Le Parc [Galeria Paulo Kuczynski]
espelhos, que ironia. mas eles refletem luzes, raios de toda parte.

O artista Ascânio MMM [Galeria Marcia Barrozo]
ondas para sentir, uma passagem pequena por perto de uma parede
ao passar ventos, volumes, como ondas. passagem por um mar bem rápido
e ao mesmo tempo uma passagem nem lenta nem rápida, sutil
Experiência sutil.

O artista Kendell Geers [Galeria Stephen Friedman]
líquido, escorrer pelo corpo. derramado
o ato de pegar um objeto
o desconhecido que soa o perigoso
o perigoso sempre tocado com delicadeza
para não o incomodar e não lhe afetar fisicamente.

A artista Ana Holck [Galeria Anita Schwartz]
linhas para tocar como instrumentos musicais. sentir cada linha
passando com os dedos, uma constante,
onde um momento finaliza e o sentir constante termina
e o caminhar pode continuar
ou querer voltar para sentir algo que já sabes como é
mas em um sentido diferente.

A artista Nazareth Pacheco [Galeria Triângulo]
o cuidado que um cego tem onde irá pisar, onde irá sentar e o que irá pegar
Tanto cuidado, sem sentir o desafio de sentir algo que não necessariamente irá ser fatal
Se nas ruas não poderá, na arte poderá.

O artista Perez Flores
uma obra plana que não é plana
na passagem quase rente a parede, poderá sentir os obstáculos, o volume, o relevo que raspa em teu rosto.

A artista Lucia Koch [Galeria Silvia Cintra]
miniaturas; toque
conheça os ambientes tocando; uma miniatura de espaços feitos em caixas
caixas que mostram ambientes internos, no qual você vira o externo.

O artista Raul Mourão [Galeria Lurix]
balanço
balanço que puxa o vento
balanço que traz o vento
grandes assopros ao invé de ventos
sinta o assopro, mas cuidado para não tocar o objeto e levar uma pancada.

O artista Alfredo de Stefano [Galeria de Babel]
um deserto ou um lugar homogênio
num lugar onde tudo é superfície, onde tudo pertence ao chão
você encontra um volume, algo novo:
uma parede
uma superfície com uma textura diferente
algo fino, volumes finos que forma um círculo
escadas
tudo isso em um espaço aberto, onde tudo é infinito.

A artista Débora Bolsoni
obstáculos ou não
paralepípedos em espuma
pisando ou desviando, o que prefere?

O artista José Bechara [Galeria Celma Albuquerque ]
um volume que o olhar que não enxerga vê
e um volume que é mais sutil
as formas de cubos coloridos num cubo branco
manchas.



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